É, foi um fim de semana bem intenso, com incríveis histórias de duplas e trios, que se juntaram pra compor canção. Não! Não era só pra músico. Podia ciclista, vendedor, padre, empresário e atrizes. Era pros tristes e pros felizes. O difícil era não rimar ou deixar de se encantar. Canção com hora marcada, e o negócio era se entregar, brincar e terminar logo de uma vez, pra mostrar. Ajuda vinha do Jean, que não se continha. Dica aqui, dica ali e a canção ficava "pronta". Modo de dizer. Pronta mesmo ficava a platéia. Aplausos! Foi mesmo uma euforia. E o autor da oficina, cancioneiro de cambona cheia, chimarroneava e cantava, o mate e suas idéias, e não deixava cair a peteca. E nos labirintos lúdicos a criatividade se expandiu. Nós da Casa Labirinto e, tenho certeza, todas as pessoas que participaram, só temos a agradecer a este imenso artista, Jean Garfunkel, que neste fim de semana de oficina, tanto nos coloriu.
Compartilho então, aqui, na íntegra, a entrevista cedida pelo Jean à Gazeta do Povo antes da data do evento.
Você vai ministrar uma oficina de composição popular. Isto á algo que se ensina, é possível ensinar a compor (contrariando a máxima de Noel Rosa)?
Isso é um trabalho que venho fazendo há uns dois anos, e que me dá muito prazer, na medida em que é uma oportunidade de estabelecer um vínculo de parceria com vários compositores ao mesmo tempo, e passar esta experiência de pelo menos 30 anos de "cancionismo". Também é muito saudável que as pessoas saibam como é que se faz uma canção, pra que se tornem, no mínimo, ouvintes mais avisados.
Um bom compositor popular deve obrigatoriamente saber musica? Há grandes exemplos (Antonio Maria, Vanzolini) de bons compositores que não eram exatamente músicos...
Adoniram Barbosa, Miguel Gustavo; este último fazia aqueles sambas de breque fantásticos do Moreira da Silva.Na hora da onça beber água, ou seja na hora de parir a canção, cada um se vale de tudo que sabe. Desde de o domínio de um instrumento ( que pode ser a caixa de fósforo), até sua memória poética, musical e afetiva. Minha mãe tinha aula de violão. Desde os 5 ou 6 anos eu e meu irmão ficávamos nas rodas de cantoria domésticas, vidrados naquele universo imaginário de histórias contadas por letra e música. Foi aí que nós conhecemos Noel Rosa e sua turma. Então eu comecei a aprender violão, decorar letras e harmonias, e cometi a canção pra primeira namorada, a essa altura eu já tinha uns 12 anos. Como ela gostou da musiquinha, a paixão virou profissão.
Adoniram Barbosa, Miguel Gustavo; este último fazia aqueles sambas de breque fantásticos do Moreira da Silva.Na hora da onça beber água, ou seja na hora de parir a canção, cada um se vale de tudo que sabe. Desde de o domínio de um instrumento ( que pode ser a caixa de fósforo), até sua memória poética, musical e afetiva. Minha mãe tinha aula de violão. Desde os 5 ou 6 anos eu e meu irmão ficávamos nas rodas de cantoria domésticas, vidrados naquele universo imaginário de histórias contadas por letra e música. Foi aí que nós conhecemos Noel Rosa e sua turma. Então eu comecei a aprender violão, decorar letras e harmonias, e cometi a canção pra primeira namorada, a essa altura eu já tinha uns 12 anos. Como ela gostou da musiquinha, a paixão virou profissão.
Como você aprendeu? Teve algum “professor”?
É claro que não há uma didática formal para composição da canção popular. O que eu faço além de estimular o criador, no que eu chamo de "caçar a inspiração", é estabelecer alguns parâmetros de auto avaliação que norteiam o processo criativo do novo compositor, impedindo-o tanto de "chover no molhado ", quanto de criar uma canção que só ele entenda.
Qual é a “razão da composição popular”? Como criador de canções de gêneros variados e jingles e que tais, há algum esquema, uma narrativa, um macete que deve ser observado para fazer uma boa canção?
Costumo dizer que no país do carnaval onde todo mundo canta, toca e dança, no mínimo uma vez por ano, a canção popular é a via de expressão artística mais representativa do nosso povo. Haja vista a riqueza do nosso cancioneiro. Pra qualquer assunto há uma canção correspondente. Da metafísica à sacanagem, tudo já foi, está sendo e será sempre cantado.
Como compositor você passeia por vários estilos e universos. Esta é uma habilidade do bom compositor de canções, saber ser um ator versátil, de vários personagens?
Meu pai era francês, minha mãe filha de russo com italiana. Portanto sou híbrido de nascença. Daí talvez, a minha, inquietude musical. Mas há grandes compositores brasileiros como Cartola, ou Paulinho da Viola, por exemplo que se especializaram num só gênero e são nossos eternos mestres queridos.
Este talvez seja um dos grandes males do mercado. Massificar a cultura para transformá-la em entretenimento descartável. É um desserviço cultural histórico lamentável.
Me fale um pouco de seus trabalhos atuais. Há um projeto - cantolivro- que você desenvolve com a sua filha, como é?
O Canto Livro é um projeto de incentivo à leitura através da música. Consiste em tirar o livro da estante, levá-lo ao palco, com a narração de textos decor, permeados por canções afinadas com a temática em questão. Começamos com Guimarães Rosa e Jorge Amado, e hoje depois de 7 anos de estrada já temos mais de vinte shows temáticos com autores e poetas brasileiros. Algumas vezes as canções são de nossa autoria, outras vezes recorremos ao nosso rico cancioneiro. Deixo aqui o endereço do nosso site recém lançado www.cantolivro.com.br .
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