sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Com a palavra, o mestre da Ponte

José Pacheco estava ontem na UFPR de Matinhos, numa palestra aberta e gratuita. Nós da Casa Labirinto fomos.

Fiquei pensando que esta experiência, desde a organização para que todos os interessados pudessem estar lá, até as conversas com as pessoas que estavam juntas em um carro, na ida e na volta, e também a participação das crianças, incluindo a minha filha, nesta movimentação, já foi uma vivência de transformação intensa, um tipo de experiência "formativa" que me remete a este trecho do livro do Larrosa, em Pedagogia Profana:

A formação é uma viagem aberta, uma viagem que não pode estar antecipada, e uma viagem interior, uma viagem na qual alguém se deixa influenciar a si próprio, se deixa seduzir e solicitar por quem vai ao seu encontro, e na qual a questão é esse próprio alguém, a constituição desse próprio alguém, e a prova e a desestabilização e eventual transformação desse próprio alguém" 

***

Chegamos em tempo de ver o mestre José Pacheco falar de educação. Legitimar o que já sabíamos, sobre parar de dar aulas. E ainda que eu não tenha ouvido tudo, porque quem desescolariza leva os filhos em palestras e divide a atenção o tempo todo, o que ouvi me fez ver o quanto eu ainda preciso aprender. Ou melhor, desaprender.

Algo me chamou muito a atenção. Pacheco fala em coerência. Devemos ser coerentes. E depois, em vários momentos com a minha filha, fiquei atenta, observando-me em meus pedidos a ela e nos exemplos que dou. Percebi que a coisa mais difícil é ser coerente. Esse é o desafio a enfrentar, agora. Posso dizer, sim, claro, ser coerente. Mas na vida, a incoerência que vivenciei está em mim, e praticar coerência é revolucionário. É praticar ética e respeito. Tem um trecho escrito por outro José, também português, o Saramago, que me faz pensar pensar pensar, e que também vem de encontro a este momento de reflexão (afinal um mestre pode se contradizer, mas jamais poderá ser incoerente):

"[...] incoerência e contradição não são sinônimos. É no interior da sua própria coerência que uma pessoa ou uma personagem se vão contradizendo, ao passo que a incoerência, por ser, bem mais do que a contradição, elimina-a, não se estende a viver com ela. Deste ponto de vista, ainda que arriscando-nos a cair nas teias paralisadoras do paradoxo, não deveria ser excluída a hipótese de a contradição ser, afinal, e precisamente, um dos mais coerentes contrários da incoerência". (A CAVERNA, p.218)

E educar, nas palavras do mestre Pacheco, é nada mais do que com coerência, dar condições para os aprendizes aprenderem o que quiserem e serem felizes. É não ficar sozinho nisso. É unir forças e estabelecer diálogos e parcerias. É o currículo do caos? Sim, inesperadas aprendizagens, dessas que realmente interessam a vida. É perguntar: O que você quer saber? O que você quer fazer? E o que precisa saber para fazer algo? Mãos à obra!


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Chá de Melissa

o quintal é uma oferenda
hoje descobri o poder da melissa
tomando um chá dessa planta vos escrevo
e confesso-lhes que estou mesmo relaxando...
será que chego ao final?

eu não sei escrever textos
queria ser manoel de barros
para, junto com as lesmas, desescrever

e como a melissa também é mel em grego (fonte: http://www.criasaude.com.br/N2175/fitoterapia/melissa.html)

e mel é oferenda de melissas para as senhoras abelhas

ofereço palavras, que é só o que posso fazer

"Uma vida é feita de palavras que nos constituem sem que prestemos muita atenção nisso. Mais que signos, as palavras são materialidades, são corporeidades. Não nos conhecemos se desconhecemos as palavras de que somos feitos. Elas são como aquelas partes do corpo que só percebemos quando nos faltam. São essenciais, mas sua experiência só nos ocorre acidentalmente. Assim, uma criança que descobre o corpo, descobre a palavra que a ele se relaciona."

(fonte: http://revistacult.uol.com.br/home/2015/08/dicionario-particular-para-uma-critica-do-consumismo-da-linguagem/)

Basta um dia pra mitigar
Ou pra emancipar
E tudo tudo viraria poesia

"Quem não presta atenção nas palavras não consegue chegar perto da poesia. Quantas vezes ela nos escapa. Nos escapa a própria vida. Ora, a poesia é o elo essencial entre a palavra e a vida. Uma leva à outra. Uma é o caminho, o método, para a outra. Uma filosofia da expressão sempre nos promete uma ética e uma política, a poesia nos dá imediatamente as duas coisas." 

E então nesse dia de reunião pedagógica
e de tentativas e erros
idéias e lampejos
fiquei com vontade de escrever um livro

fiquei buscando entender o que as crianças sentem a partir da expressão que aflora através dos labirintos. E também os adultos.

Os labirintos e suas infinitas possibilidades...

Na escola de teatro 
No Jardim ambiental
Na ciranda Cirandinha
Lá no fundo do quintal

Diferentes experiências com algo em comum: há sempre o florescimento da livre expressão de emoções e pensamentos. 

Então a pergunta logo surge: mas por que o labirinto?
não sei bem, confesso
não sei e por não saber é que justifico a escolha
poderia ser qualquer outro símbolo mesmo
eis aí uma não-resposta
porque o mistério é mistério justamente aí, nesse porquê impossível




Para fechar e aí sim com chave tecnológica de ouro, a reunião à distância com uma galera preciosa que chamo de Casa Labirinto, fizemos uma pequena lista de coisas para se fazer com as crianças e o labirinto:

- Correr
- Dançar
- Jogo da Memória com as cores
- Andar diferente
- Colocar um baú no meio e renovar o conteúdo dele
- Fazer um pedido, sonhar
- Resolver problemas de relacionamento, conflitos
- Meditar
- Caminhar em silêncio
- Rituais
- Texturas

E quantas coisas mais...

O chá está fazendo efeito.
Boa noite.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Que coisa é essa que faz a gente se mover?


Ontem, quando cheguei na Casa Labirinto, senti o espaço todo em harmonia com as vibrações boas que existem no universo.
Cheiro de casa bem cuidada.
Cantinhos lúdicos aproveitados o dia todo.
O brincar...


Aí chega a terça-feira
Uma atividade encantada
Que existe por tudo e pra nada
Um mate, um lanche
Aquecer a voz pra esquentar o coração
O canto, a sintonia
O violão...

Uma vontade de dizer de tudo um pouco
Adivinhar o seu querer do ouvido

O trabalho é feito
O tempo corre
A vida segue
O choro acontece
E todo o tempo é muita emoção

Uma, duas, três quatro turmas
todos de uma só associação
As trajetórias do corpo
A Liberdade de criação

"O labirinto é bom", diz Pedro ao continuar sempre
entrando. Ele chega no centro, descansa,
e volta ao início, sem sair pelo caminho que entrou.
Um amigo chega e diz,
"que tal irmos juntos agora? Como amigos?"



Enquanto isso ali na outra escola
Um grupo tão pequeno de professoras
brincam alegres de adivinhação


Uma velhinha cega
segue sua desconfiança
sente o cheiro da criança
que cada adulto descobre ter




E as vivências de capacitação
São experiências de movimentação interior
De descoberta do símbolo que resgata a vida potente 
que está em toda gente






E lá do Tatuquara...
Criançada viu-se admirada
Com a possibilidade de caminhar
caminhar sem se perder
de encontro ao próprio ser
Numa roda de brincar de montar, cuidar e destruir
Tudo assim, num dia inteiro a fluir

Vai agora labirinto
Vivificar Paraty, Matinhos, Piracaia
Vivificar as ondas, montanhas, e a roda da saia
Trazer prosperidade, cura, amor, amizade e até vaia

Uma trupe inteira de gente faceira
Que se move em direção ao centro
todo dia e a vida inteira
Só pra sentir o que é afinal
que coisa? qual?
isso de que somos feitos
que faz o movimento acontecer

que coisa é essa que faz a gente se mover?

Se essa força quiser vir aqui
Falar comigo, brincar, conversar, cantar, cozinhar, esculpir...
Tenho uma urgência nesse prosseguir
Abrindo minha casa para me abrir
Partilhar do que somos e vivemos para cada vez mais unir
O que vem de lá da urbanidade da outra cidade da diversidade 
para nutrir

Essa coisa de mover e esse pra onde e esse porque
só cada percurso único e livre pode, em seu caminhar, responder