sábado, 8 de fevereiro de 2014

O retorno a Pangea


Numa enseada de mar, quanta onda e quanta gente se vê passar. A areia quase que não se alisa. Numa tarde ensolarada, lá numa sombra de grande sombrero, uma pessoa interpela um banhista que, sentado defronte ao grande mar, aprecia a paisagem tomando sua água de côco.

- com licença. Diz a pessoa à pessoa. E continua: - você se importa se eu pegar a sua mão?

Surpreso com o pedido, intrigado e intuitivamente convencido de que poderia confiar no estranho que o abordara, o rapaz de sungas e côco entre as mãos atende à educada solicitação.

Foi neste dia que tudo voltou a ficar redondo.

De continente a continente as mãos se entrelaçavam para formar o mais lindo muro de gente. Uma grande serpente.

No começo foi só o sul da américa do sul. Depois, houvesse o que houvesse, as pessoas todas foram se trançando. Até mesmo as mulheres parindo e os presidiários. Capatazes ou coronéis sequer se lembravam de seus papéis. Os cadeados se abriram.

E então, todos os navios atracaram com seus tripulantes já entrelaçados, que já saíam prontos para unirem-se à ponta de cada lado do grande cordão. O mesmo se deu com todo avião que voava.

Foi assim por pelo menos 319 dias, sem que ninguém sentisse fome ou frio. Sempre havia alguém próximo de um cobertor, supermercado ou árvore frutífera. Rapidamente o necessitado era amparado. O sono e necessidades fisiológicas aconteciam naturalmente, por revezamento, conforme o local e pessoa naquele momento.

Os carros de toda sorte de lugar estavam desligados. O destino.

Por toda África,
América,
Ásia,
Europa,
Oceania.

Até que os próprios continentes deram-se as mãos.