sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Terminar é Começar

É preciso escrever o último post sobre a primeira experiência.
Quando uma história termina outra já começa no lugar.
Lá, naquela escola tão acolhedora
tantos Joãos, Fábios, Arturs, Mateuses, Gabis, Caios, Dudas, Saras, Luízas, Gabrielas...
Todos fáceis de amar
E a Gleyce!
O Ronaldo...
A Denise e o Osmar!
Nessa escola o labirinto morava
ficava ali
como que pronto pra pôr pra rodar
E foi no último dia a experiência intencional: aula de labirinto
(tá, tudo era aula de labirinto)
a turma percorre a lona
combina a tarefa
monta e brinca
destrói e guarda
e percorre na lona de novo
e vai pra sala calminha, calminha...
atividade coletiva que exige muita participação
de todos
muita colaboração
às vezes a colaboração surge até daquele
que só passava por ali
ninguém resiste
E foi no último dia que a minha amiga artista professora de marcenaria aproveitou pra usar
E depois acabou por se envolver e também a ajudar
A cada momento um novo contexto
uma nova forma
um recomeçar
Crianças sem sofrimento
se ajudando
que bonito
que gostoso de olhar
E a mocinha da sexta série:
"Ah, sério que vai acabar?"
"Ah, mas é tão legal."
Ficaram querendo mais
Não deu tempo de cansar


Puxa, mas lembro que briguei com dois impertinentes
e depois me arrependi
eu podia ter caminhado com eles
na calma, na santa paz, no amor
crianças não podem conseguir me aviltar
seja no começo ou no final
paciência é minha nascente
é cachoeira abundante
enxurrada pra umedecer
e amaciar

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Cartão vermelho! Se precisar...

De manhã, tudo em ordem. Osmar usou e deixou tudo empilhado de novo. Ele vai me relatar o que fez. E vai pedir pras crianças dizerem o que acharam também. Eis que no recreio a 5a e a 6a série, de novo, clientes cativos, decidem que querem montar. Em minutos, tudo pronto. E ainda têm tempo de brincar.

Depois disso a molecada mais nova chega correndo pra usar. Tento fazer um rodízio, 7 em 7, impossível. O recreio é muito curto. Dá peninha. Não vai dar. Acabo liberando tudo, e aí não tem jeito, acaba o recreio e um monte de caixa está fora do lugar. Não faz mal, vou lá, arrumo. Every activity is devotion. E o abraço que recebo do Léo é desses de recarregar. "Que quentinho o seu abraço", ele diz ao me apertar. E o desenho da menina fofucha, "olha só, Fabi, sou eu, você e o labirinto ao luar".

A chuva começa bem no recreio dos da oitava. E junta um bando de piá grandão pra entrar e zonear. Tento dar algum limite. É difícil controlar. Pára a chuva, fica uns três. Até que ajeitam o lugar. Quando chego pra jornada vespertina tá tudo de perna pro ar. Sem falar na melecada de umas caixas que se molham. Coitadinhas... Estão firmes lá comigo. Umas já começam a se debulhar. O que tenho a fazer? Arrumar, arrumar... Imagine se no recreio não vem um monte de criança me ajudar. A molecada adora! Carregar! Carregar! Empilhar! Empilhar! Todos podem ajudar! Que alegria arrastar umas quatro de uma vez. Que delícia arremessar bem no alto da pilha de 5 andares, onde é difícil de alcançar. Se alguém quer ficar de furdunço, ali no meio, pra chutar e atrapalhar; tá expulso! O cartão é vermelho! Pra quem não quer colaborar. E a brincadeira é tão boa que mesmo os mais terríveis se esforçam pra se comportar. E participam com todo sentimento, uma energia que há. E ainda dá tempo de correr na lona, antes de voltar pra sala. Corrida cronometrada, um de cada vez, que é pra gastar mais, que é pra explodir! E a brincadeira irradia, e continua no outro recreio, ida e volta, melhor tempo, 38 segundos! Uau! Eles se imbuem, fazem fila. Tem até professora que participa, e vai bem! Se você visse a cara deles no final do desafio, bem na hora que eles saem lá de dentro do corrupio... No entanto, a Duda fica por último, e quer participar. Entra e inventa outro jeito: "Fabi, vou beeeem devagar". Vai dançando, sibilando, flutuando pelas curvas. Que menininha sapeca. Uma doçura.

Finalmente o Ronaldo, meu super ajudante, percorreu pra ganhar umas uvas, que deixei lá no centro pra ele pegar. E a Sally, minha quebra-galhos, também teve a sua vez. Lindo foi caminhar com a Isadora no colo. Aí veio aquela turma bem grandona do jardim. Todos queriam muito, e montaram, e brincaram, e correram, e aproveitaram, e destruíram, desmontaram, e empilharam no fim. Teve dois expulsos que ganharam a chance de voltar (e eram outras crianças, era o dobro de ajudar). E a menina que canta: "Vamos trá-balhaaar, vamos trá-balhaaar". Sabe que agora me lembro, que até começamos com dados, cada um, pra montar, joga e pega o tanto de caixa que saiu. Mas no andar da carruagem, os dados? Ninguém mais viu...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Juntando forças

Depois de tantos acontecimentos me ocorre um esgotamento. A tarde de ontem foi sacrificante. Ainda mais sozinha. Fiquei só no recreio e mesmo sem toda disposição coisas legais acontecem. "Eu sempre empurro mesmo", me disse o Caio. E reiterou: "Eu não consigo não empurrar". A conversa com ele foi boa depois disso.

A manhã de hoje foi boa demais de novo. A oitava, pela primeira vez, aproveitou a torre de caixas deixada antes pelos pequenos para montar. Estava ficando incrível o modelo de montagem deles. Por serem altos, estavam fazendo um centro imensamente gigante. Mas no final de tudo, antes de voltarem para a sala, destruíram e quase que deixam-se ser crianças.

Volto à tarde e está tudo simplesmente no lugar. Caixas minuciosamente empilhadas e lona estendida à disposição. Foi o Osmar, e a outra 4a série que ele levou lá, na última aula da manhã!

Aproveito e dou aulas de música no labirinto-lona, que ficou interditado em um dos recreios para isso. E que frustração, as crianças, que chegam e não podem brincar! Foi depois da aula do JdII que eu liberei pro recreio de novo, e fiz o sorteio que tanto esperavam, as meninas. Depois ficam brincando na lona mesmo e tem até um menino tentando fazer o percurso andando de perna de pau. Então já tá na hora de pegar a 2a série e depois tem mais uma 2a série, cada turma 45 minutos. O desafio que proponho é conseguirem sair do centro e voltar para o centro no tempo da uma música. Organiza de um jeito, tenta de outro e no final, tudo dá certo só que uma coisa dá mais certo do que outra, e é isso que eu vou descobrindo. Estou sem voz mas não posso parar. Isso tá de arrebentar. Primeiro em equipes, depois turma inteira, ou então com alguém no comando da brincadeira. No labirinto, quando todos colaboram, a brincadeira flui e o tempo voa. Colaboração é a chave. Isso é bom de enfatizar. Crianças aprendem na prática uma coisa que sempre vão precisar.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Vórtice

O dia começou cedo. Prática de ioga antes de labirintar. Quando cheguei o Luca o Gil já estavam lá. O Luca porque é parceiro e investidor do projeto. O Gil porque é amigo e cineasta que foi pra conhecer e filmar um pouco. Decidi colocar duas idéias em prática aproveitando que o labirinto estava montado. Caminhar equilibrando algo na cabeça (pedra, rolo de fita crepe, concha...), e caminhar de olhos vendados junto com um amigo-guia. A idéia empolgou e funcionou. E mesmo com os menores, mudando um pouquinho a dinâmica e o modo de organizar, deu tudo certo e todo mundo gostou de brincar. No final destruição! Era caixa pra tudo que é lado. E uma satisfação. Nesse calor, só o labirinto na piscina podia ser ainda mais gostoso!

E visitas. Hoje foi o dia das visitas. A Gi trouxe meu sobrinho, que aproveitou o máximo que pôde, entre o monta e o desmonta do lugar. A gente caminhou junto, eu de olhos vendados na entrada e ele na saída. Que amor seu jeito de me guiar. Começou indo atrás de mim, falando vai pra esquerda, pra direita, foi muito, volta pra cá. Depois inventou um esquema puxando a minha camiseta e prefiriu passar na minha frente pra me puxar. Na saída usei sua última técnica, porque foi a melhor. Tanto que fizemos o percurso bem mais rápido.

Também teve o Ricardo (que ficou tonto, e me ensinou que sair não é voltar); a Mônica, a Priscila... E a tia Vera, que é a dona da escola, que já estivera ali muitas vezes mas, hoje, especialmente, não cansou de ir lá olhar. Mas ainda não a vi labirintar.

Teve a turma da quarta série. Eles precisavam passar por ali, com a professora, e adoraram ajudar e terminar de empilhar as caixas do desmoronamento ocorrido minutos antes, no recreio. Por eles ficavam ali. E na turma deles estava o Fábio, um dos alunos especiais que depois voltou com mais três especiais pra usar o mágico lugar. Um deles era o João, cativo. O Mateus e o Artur ainda não tinham ido lá, foi a primeira vez dos dois. O labirinto estava semi-montado, faltava terminar. Depois de conversarmos um pouco labirintando com o dedo, e da gente se apresentar e se abraçar, propomos percurso de reconhecimento e depois ajuda pra montar. Até as visitas colaboraram, e era caixa pra lá e pra cá de novo. Criação. E já que tá pronto de novo, saíram todos para que os meninos pudessem de novo caminhar.

E cada coisa em seu lugar. Tudo se deu na hora de desenrolar. Concatenamento de eventos sem ninguém nenhum nada zero planejar. O currículo do caos to botando pra funcionar. Meu coração se aperta e no banheiro choro, sem ninguém olhar. Que força tem esse labirinto. Que fortaleza esse lugar. Campo magnético, energético. Um vórtice. Um sistema solar.